Efeito sanfona: por que manter o peso é mais difícil do que emagrecer?
A receita para perder peso todo
mundo conhece: basta comer alimentos saudáveis e ingerir menos calorias do que
o corpo gasta. Mas depois de emagrecer o quanto você deseja, qual é a fórmula
para não engordar tudo novamente e manter o ponteiro da balança estacionado?
A resposta para essa pergunta não tem a
ver apenas com disciplina e força de vontade. Ela pode estar relacionada aos
seus antepassados e, acredite, principalmente a uma espécie de boicote do
organismo.
"Quando faz dieta, o corpo
interpreta como se você estivesse passando fome. Daí, como no tempo das
cavernas, passa a economizar energia porque não sabe quando terá comida
novamente", explica o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente
da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
A
fome aumenta
Assim que você começa a emagrecer, o
organismo cria formas de fazê-lo voltar ao peso anterior. "Ele aciona
mecanismos de compensação: libera uma quantidade de grelina,
hormônio que está associado à fome; e diminui a
produção de leptina, que faz você demorar mais para sentir saciedade",
diz o médico.
Isso explica, por exemplo, por que
depois dos primeiros resultados de um período de dieta muita gente sente mais
fome ou desejo por alimentos que antes nem faziam parte da rotina alimentar. Em
alguns casos, dizem os especialistas, esse processo chega a alterar até o sabor
dos alimentos. Tudo para fazer você comer mais. "O cérebro faz isso
porque entende que, quanto maior o peso da pessoa, melhor", diz
Renato Zilli, médico endocrinologista do Hospital Sírio Libanês.
O
metabolismo desacelera
Como se não bastasse aumentar a fome e
retardar a saciedade, um outro mecanismo deixa as coisas ainda mais difíceis
para quem quer manter o peso que perdeu: o corpo simplesmente decide
desacelerar. Ou seja, passa a gastar menos energia para os processos
metabólicos a fim de fazer um estoque (de gordura), caso você precise dele no
futuro.
"Tem uma hora em que a curva de
peso estabiliza, mesmo que você continue comendo pouco. Isso acontece porque o
organismo entende que precisa se tornar mais eficiente, então começa a poupar
energia", comenta Zilli.
Há questões a que o corpo não se adaptou
ao longo da evolução. Por exemplo, a oferta de alimentos hoje em dia é
abundante, o que elimina o esforço necessário para conseguir comida, em comparação
com nossos antepassados, que precisavam caçar e plantar para comer. Além disso,
a qualidade da comida não é a mesma de antigamente --consumimos muita coisa
processada, com altas concentrações de gordura e açúcar.
Um grupo de pesquisadores portugueses
investigou os hábitos de 388 pessoas que enxugaram, em média, 18 kg e não
engordaram mais ao longo de dois anos, apesar dos obstáculos listados até
aqui. O estudo foi
publicado no ano passado na revista científica Journal of Behavioral
Medicine.
Os resultados indicam algo que não
parece muito novo: o sucesso se deu pela associação de uma dieta
balanceada e prática de atividades físicas regularmente. Mas há detalhes
interessantes na pesquisa.
Em relação à dieta, a maior parte dos
entrevistados privilegiou a ingestão de alimentos saudáveis em casa, comeu
vegetais com frequência e tomou café da manhã todos os dias. Além disso, o
estudo mostrou que eles reduziram o tamanho das porções e a maioria optou por
um cardápio com menos carboidratos e mais proteínas.
Quanto aos exercícios, 78% dos
participantes responderam que faziam mais de 150 minutos por semana de
atividade em intensidade moderada a vigorosa. "É importante destacar
que é preciso se movimentar não só com exercícios aeróbicos (corrida, bike,
natação), mas também com anaeróbios (musculação), que estimulam o ganho de
massa muscular e, consequentemente, aumentam o gasto energético em
repouso", orienta Ribas Filho.
Os entrevistados adotaram, ainda,
estratégias como monitorar o peso com frequência e estabelecer metas
específicas de emagrecimento, o que se mostrou eficiente. "A motivação é
uma questão chave na perda de peso, por isso é importante encontrar fatores
positivos nesse processo. Em longo prazo, não se trata de 'preciso entrar
naquele jeans', e sim de 'quero ver meus filhos crescerem'", sugere
Zilli.
Em alguns casos, diz o
endocrinologista, é preciso também investigar os motivos que levam à
compulsão alimentar ou à dificuldade de perder peso, como estresse,
problemas hormonais ou emocionais e insônia.
Os resultados do estudo português
indicam, portanto, que a manutenção do peso perdido é possível com uma dieta
balanceada e prática regular de atividade física, mas também sugerem que adotar
diferentes estratégias, comportamentais e individualizadas é essencial
para alcançar o sucesso.
Fonte: https://vivabem.uol.com.br
/ acesso em: 23 de outubro de 2018
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